O Ibovespa encerrou em baixa de 0,31% nesta quinta-feira (9), aos 141.708 pontos, acompanhando, portanto, o pessimismo em Wall Street e a cautela com o cenário fiscal após a derrota do governo no Congresso. Enquanto isso, o dólar subiu 0,58%, a R$ 5,37, em meio à leitura de um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro abaixo das expectativas e, além disso, às incertezas políticas no Brasil e na Europa.
Derrota da MP da Taxação amplia cautela do mercado
O resultado da sessão foi influenciado pela retirada de pauta da Medida Provisória 1.303, que previa a taxação de aplicações financeiras. A decisão da Câmara dos Deputados, por sua vez, levou à expiração da proposta, interpretada pelo mercado como uma derrota do governo.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que apresentará novas alternativas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para compensar a perda de arrecadação. Lula, por outro lado, declarou que discutirá novas formas de cobrança do imposto junto ao sistema financeiro na próxima semana.
Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o impasse traz riscos adicionais. “A derrubada da MP cria um problema fiscal que precisará ser endereçado. Desse modo, o governo pode recorrer a mudanças na meta fiscal, o que seria negativo para os preços dos ativos”, afirmou.
Na mesma linha, analistas da XP destacaram que parte do conteúdo da medida pode ser reintroduzida em um projeto de lei, com o objetivo de priorizar pontos com maior potencial arrecadatório, como a limitação de compensações tributárias e ajustes de despesas.
Inflação mais branda reduz pressão sobre juros
O IPCA de setembro subiu 0,48%, após deflação de 0,11% em agosto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado acumulado em 12 meses ficou em 5,17%, abaixo das projeções de 5,22% dos economistas consultados pela Reuters. Com isso, a leitura reforçou a percepção de que a inflação segue sob controle.
Para Camilo Cavalcanti, gestor da OBY Capital, a desaceleração de serviços — setor mais sensível à política monetária — indica que a taxa básica de juros começa a surtir efeito. Além disso, Marcos Vinícius Oliveira, da ZIIN Investimentos, complementa que o dado “reforça o avanço do processo de desinflação e pode levar o Banco Central a atenuar o discurso de manutenção prolongada da Selic elevada”.
Desempenho das ações e câmbio
Entre as companhias listadas no índice, WEG liderou os ganhos com alta de 4,79%, impulsionada, portanto, pela expectativa de novos investimentos da Light. Já Brava Energia caiu 5,09% após suspender temporariamente operações na Bacia Potiguar devido a uma auditoria da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
As ações da Petrobras recuaram cerca de 1,4%, acompanhando assim a queda superior a 1,5% do preço do petróleo em Londres e Nova York. A Vale também encerrou o pregão em baixa de 0,15%. Entre os bancos, por sua vez, houve desempenho misto: Santander subiu 1,32%, enquanto Itaú caiu 0,16%.
O dólar avançou 0,58% e terminou a sessão cotado a R$ 5,3750, refletindo, dessa forma, o aumento da aversão a risco e a volatilidade nos mercados globais.
Bolsas internacionais também recuam
Nos Estados Unidos, os principais índices de ações fecharam em queda. O Dow Jones recuou 0,52%, o S&P 500 perdeu 0,28%, e o Nasdaq, 0,08%. Entre os fatores que contribuíram, destacam-se a paralisação parcial do governo norte-americano, que completa nove dias, bem como a falta de consenso no Senado sobre o financiamento federal, o que intensificou o mau humor dos investidores.
Além disso, o cenário se agravou com declarações divergentes de dirigentes do Federal Reserve (Fed). Enquanto Michael Barr defendeu cautela antes de novos cortes de juros, John Williams, por outro lado, sugeriu reduções adicionais ainda neste ano.
Na Europa, o índice Stoxx 600 caiu 0,43%, pressionado principalmente por bancos e pelo setor automotivo, após recordes recentes. Adicionalmente, a instabilidade política na França também pesou: o presidente Emmanuel Macron anunciou que nomeará um novo primeiro-ministro em até 48 horas, após a renúncia de Sébastien Lecornu.
As ações do HSBC caíram 5,4% após o banco anunciar a compra da fatia minoritária de sua subsidiária Hang Seng Bank, avaliada em US$ 13,6 bilhões. Ao mesmo tempo, o setor farmacêutico também recuou, com queda de 1,3% na Novo Nordisk após anunciar a aquisição da norte-americana Akero Therapeutics, por até US$ 5,2 bilhões.
Apenas o DAX, de Frankfurt, avançou 0,06%, atingindo novo recorde histórico, aos 24.611 pontos.
Perspectivas
De modo geral, analistas avaliam que o mercado deve permanecer volátil nos próximos dias, uma vez que os investidores seguem atentos às sinalizações do governo sobre o ajuste fiscal e às discussões do Banco Central sobre a Selic.
“O mercado segue cauteloso, observando se o governo buscará novas fontes de arrecadação ou cortes de gastos. Portanto, a reação a essas medidas definirá o humor da Bolsa nas próximas sessões”, afirmou Rodrigo Moliterno, da Veedha Investimentos.






























