O Brasil possui uma das maiores reservas de terras raras do mundo e pode se tornar protagonista no mercado global desses minerais estratégicos. Contudo, especialistas alertam que o país ainda carece de políticas industriais consistentes e de um ambiente regulatório estável. Sem esses fatores, o potencial geológico não se converte em desenvolvimento tecnológico e econômico. O tema, portanto, foi debatido na última reunião do Conselho de Mineração da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O presidente do colegiado, Sandro Mabel, afirmou que o momento é decisivo para o país deixar de ser apenas exportador de minério. Segundo ele, é preciso avançar na industrialização do setor. “O Brasil tem potencial expressivo, mas necessita de políticas que fortaleçam toda a cadeia produtiva, da extração ao produto final”, destacou.
O que são terras raras e por que elas importam
As chamadas terras raras formam um grupo de 17 elementos químicos essenciais à produção de tecnologias de ponta. Elas estão presentes, por exemplo, em turbinas eólicas, motores de veículos elétricos, painéis solares e equipamentos eletrônicos. Embora abundantes na crosta terrestre, esses minerais aparecem em baixas concentrações. Além disso, exigem processos complexos de extração e separação.
Com a transição energética e a busca por fontes sustentáveis, a demanda global por terras raras deve crescer rapidamente. No Brasil, por sua vez, o tema ganhou força durante as negociações comerciais com os Estados Unidos. O país norte-americano, inclusive, busca diversificar fornecedores e reduzir a dependência da China, responsável por cerca de 60% da produção mundial.
Potencial subaproveitado
O Brasil detém a segunda maior reserva global, com cerca de 21 milhões de toneladas, o que equivale a 23% do total mundial. Apesar disso, participa com apenas 0,02% da produção global, o que corresponde a 80 toneladas das 350 mil produzidas anualmente, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Além disso, projeções da estatal indicam que a demanda nacional deve crescer seis vezes entre 2024 e 2034. O volume passaria de 1 mil para mais de 6 mil toneladas por ano. Para os especialistas, o desafio é transformar essa abundância em capacidade industrial. Isso exige, portanto, investimento em etapas como processamento, separação e transformação dos minerais.
“O que vem junto com a indústria de terras raras é o desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação — áreas nas quais o Brasil ainda é carente”, afirmou Luiz Antônio Vessani, integrante do Conselho de Mineração da CNI e presidente da empresa Edem, especializada em mineração.
Valor agregado e inovação
De acordo com Nilson Francisquini Botelho, professor do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB), investir na cadeia produtiva completa é essencial. Segundo ele, essa estratégia agrega valor, gera empregos qualificados e estimula inovação. “Hoje exportamos matéria-prima bruta para a China. Se investirmos, contudo, na transformação desses metais em produtos tecnológicos, os ganhos econômicos e industriais serão muito maiores”, avaliou.
Vessani também defende a criação de um marco regulatório estável e incentivos à produção nacional. Dessa forma, seria possível fomentar a mineração e gerar insumos estratégicos para as indústrias brasileiras. “Assim, poderemos fabricar veículos elétricos, aerogeradores e outros equipamentos de alta tecnologia”, acrescentou.
Burocracia e segurança jurídica
Além dos desafios tecnológicos, o setor enfrenta entraves regulatórios e ambientais. Por isso, o Conselho de Mineração da CNI aponta que a burocracia no licenciamento e a insegurança jurídica afastam investidores e encarecem projetos de longo prazo. Nesse sentido, a entidade defende maior previsibilidade regulatória e agilidade administrativa. Essas medidas, segundo o Conselho, são essenciais para consolidar o setor como vetor de desenvolvimento econômico e sustentável.






























