A Ambipar (AMBP3) entrou com pedidos de recuperação judicial no Brasil e nos Estados Unidos após detectar irregularidades em operações financeiras realizadas pela antiga diretoria. O anúncio, divulgado na madrugada desta segunda-feira (21), provocou queda superior a 20% nas ações da companhia, que passaram a ser negociadas abaixo de R$ 0,50 na B3.
Pedido de recuperação e reação do mercado
O processo foi protocolado na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro e na Justiça norte-americana sob o Chapter 11, mecanismo que protege empresas em dificuldades financeiras com presença internacional. Além disso, o pedido inclui a subsidiária Ambipar Emergency Response, registrada nas Ilhas Cayman.
A medida foi tomada após semanas de pressão dos credores e diante do risco de antecipação de dívidas que somam cerca de R$ 10 bilhões. Antes da solicitação, a empresa havia obtido uma liminar de 30 dias para suspender cobranças e preservar o caixa. Assim, ganhou tempo para avaliar a extensão das inconsistências financeiras e definir estratégias emergenciais.
Irregularidades e mudanças na diretoria
As irregularidades identificadas envolvem contratos de swap, utilizados para trocar índices financeiros. Esses contratos foram estruturados pela antiga diretoria financeira, sem controles internos adequados. O ex-diretor João de Arruda deixou o cargo no fim de setembro, sendo substituído por Ricardo Garcia, que também assumiu a área de Relações com Investidores.
Além disso, documentos enviados à Justiça revelam a existência de um inquérito criminal em andamento para investigar a conduta do ex-executivo e de seus colaboradores. Segundo a Ambipar (AMBP3), o grupo foi alvo de um ataque orquestrado de short sellers, o que ampliou a volatilidade e agravou a desconfiança do mercado.
Para aprofundar a apuração e buscar soluções, a empresa contratou a consultoria internacional FTI Consulting. Paralelamente, iniciou ações de reparação civil para tentar reaver prejuízos financeiros decorrentes das operações irregulares.
Situação financeira e pressão dos credores
O pedido de recuperação judicial foi acompanhado de um relatório de fluxo de caixa sigiloso, entregue à Justiça. O documento contém projeções financeiras para os próximos dois anos e detalha o uso dos R$ 4,7 bilhões registrados no segundo trimestre, dos quais R$ 2 bilhões estão disponíveis para uso imediato.
Atualmente, a Ambipar (AMBP3) possui uma das maiores dívidas corporativas do país, estimada em R$ 11 bilhões. Entre os principais credores estão o Santander e o Banco do Brasil. Conforme informações do Broadcast, o Santander chegou a exigir o pagamento de US$ 120 milhões em apenas 24 horas, o que aumentou significativamente a pressão sobre o caixa da companhia.
Além disso, a empresa forneceu informações confidenciais sobre bens e aplicações financeiras dos sócios. O grupo é controlado por Tércio Borlenghi Junior, que detém 43,85% das ações, e pelo fundo Everest, com 23,83%.
Crescimento acelerado e aumento do endividamento
Fundada em 1995, a Ambipar construiu uma trajetória marcada por expansão agressiva e aquisições internacionais. O IPO, realizado em 2020, precificou as ações em aproximadamente R$ 25. Desde então, a companhia ampliou sua presença de 14 para 40 países e concluiu mais de 70 aquisições.
Entretanto, o rápido crescimento aumentou o endividamento e reduziu a flexibilidade financeira. Em 2023, 37% da receita líquida veio do Brasil e 48% da América do Norte, o que reforça sua dependência de mercados externos.
A crise se agravou em 22 de setembro, quando os bonds da Ambipar, com vencimento em 2031, despencaram no mercado internacional. Poucos dias depois, o Deutsche Bank solicitou um aporte adicional de US$ 35 milhões, previsto em contrato para situações de desvalorização cambial.
Como resultado, houve efeito dominó que poderia antecipar obrigações de até R$ 10 bilhões. Por essa razão, a empresa buscou proteção judicial para evitar a insolvência. Apesar de ainda manter um caixa robusto, a perda de confiança dos investidores fez as ações despencarem de R$ 10 em setembro para R$ 0,58, o que levou à exclusão dos papéis AMBP3 de nove índices da B3.
Perspectivas e próximos passos
De acordo com relatório do UBS BB, a crise ameaça as duas divisões principais da Ambipar (AMBP3): a de resposta a emergências, dependente da credibilidade operacional, e a de gestão ambiental, sustentada por contratos de longo prazo.
Por outro lado, caso o pedido de recuperação judicial seja aceito, a empresa poderá apresentar um plano de reestruturação voltado à renegociação de dívidas e à reorganização do fluxo de caixa.
Além disso, especialistas avaliam que a transparência nas investigações, aliada a uma comunicação constante com o mercado, será essencial para reconstruir a confiança de investidores e credores. Dessa forma, a Ambipar (AMBP3) busca preservar suas operações e restaurar sua reputação no setor ambiental e financeiro.






























