O Banco do Brasil (BBAS3) registrou lucro líquido ajustado de R$ 3,8 bilhões no segundo trimestre de 2025, o que representa uma queda de 60% em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado, divulgado na noite desta quinta-feira (14), ficou abaixo da estimativa média de R$ 5 bilhões projetada por analistas da LSEG. Trata-se do segundo trimestre consecutivo de retração após 16 períodos de alta, e o único entre os grandes bancos brasileiros a apresentar redução no lucro.
De acordo com o banco, o desempenho foi afetado pelo aumento da inadimplência, especialmente no agronegócio e em micro, pequenas e médias empresas, e pelas exigências da Resolução CMN nº 4.966/2021, que determinou provisões mais robustas para perdas com calotes. Essa norma do Conselho Monetário Nacional impôs critérios mais rigorosos para a cobertura de créditos considerados de maior risco.
O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) — indicador que mede a rentabilidade em relação ao capital dos acionistas — recuou para 8,4% no trimestre, contra 21,4% no mesmo período de 2024. Segundo levantamento da consultoria Elos Ayta, é o pior desempenho desde pelo menos 2010, ficando atrás de concorrentes como Itaú (23%), Santander (16%) e Bradesco (14,6%).
Carteira de crédito cresce, mas qualidade cai
A carteira de crédito expandida do BB atingiu R$ 1,24 trilhão, alta de 11,2% em relação a 2024 e de 1,3% frente ao trimestre anterior. No segmento de pessoas físicas, houve avanço de 8%, para R$ 342,6 bilhões. Em pessoas jurídicas, o crescimento foi de 14,7%, alcançando R$ 468 bilhões. O agronegócio, foco estratégico do banco, registrou R$ 404,9 bilhões em financiamentos, aumento de 8%. Apesar do crescimento, dados do Banco Central apontam que a inadimplência de operações rurais alcançou níveis recordes, com 3,5% dos contratos em atraso superior a 90 dias.
As despesas administrativas subiram 4,7%, somando R$ 9,7 bilhões, influenciadas pelo aumento de 4,9% nos gastos com pessoal. Já as perdas esperadas com empréstimos — provisões para créditos de difícil recebimento — somaram R$ 31,6 bilhões no primeiro semestre, 89,3% acima do registrado no mesmo período de 2024.
Projeções e dividendos
Ao apresentar o balanço, o banco revisou para baixo suas projeções para 2025. A expectativa de crescimento da carteira de crédito caiu de 5,5%-9,5% para 3%-6%, e a margem financeira bruta passou a ser estimada entre R$ 102 bilhões e R$ 105 bilhões. O lucro líquido ajustado projetado foi fixado entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões no ano.
O BB também anunciou redução no payout — percentual do lucro destinado a dividendos — de 40%-45% para 30%, justificando a decisão pela necessidade de preservar capital e fortalecer a estrutura financeira. Pagamentos referentes ao primeiro semestre já foram realizados, e o calendário do segundo semestre permanece inalterado.
Perspectivas e reação do mercado
Segundo a presidente Tarciana Medeiros, 2025 é um “ano de ajuste para aceleração do crescimento”, com foco em investimentos estruturantes, tecnologia e capacitação. No entanto, analistas alertam que a combinação de inadimplência elevada, provisões robustas e rentabilidade abaixo de dois dígitos coloca pressão sobre a estratégia do banco e pode impactar a valorização das ações no curto prazo.
Desde o início do ano, os papéis do BB acumulam queda superior a 30%, refletindo a piora dos indicadores financeiros e a percepção de risco entre investidores.