O Ibovespa registrou a maior queda desde 2021 nesta sexta-feira (5), em um pregão marcado por forte aversão ao risco após o anúncio da possível candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência em 2026. O índice recuou 4,31%, aos 157.369 pontos, revertendo a máxima histórica intradia de 165.036 pontos atingida pela manhã. Assim, a mudança abrupta de expectativas políticas e fiscais dominou o movimento do mercado.
Incerteza política provoca virada do mercado
A reversão começou no início da tarde, quando reportagens indicaram que o ex-presidente Jair Bolsonaro — atualmente preso por tentativa de golpe de Estado — havia escolhido o filho como candidato. Logo depois, Flávio confirmou a decisão. Como consequência, aumentou rapidamente a percepção de risco sobre o cenário fiscal e eleitoral, o que intensificou ordens de venda e derrubou o índice em mais de 7 mil pontos.
Paralelamente, o dólar reagiu ao aumento do risco e subiu 2,29%, para R$ 5,4318. Além disso, as taxas de juros futuros avançaram mais de 40 pontos-base, pressionadas pela expectativa de menor previsibilidade fiscal.
Por que o mercado reagiu tão mal
Segundo analistas, a mudança no quadro eleitoral alterou uma premissa que sustentava parte do otimismo recente com ativos brasileiros. Até então, Tarcísio de Freitas era considerado o nome mais competitivo da direita para 2026 — o que, por sua vez, sugeria aos investidores uma agenda mais clara de responsabilidade fiscal.
De acordo com Christian Iarussi, economista da The Hill Capital, o movimento “esvazia a expectativa de que Tarcísio pudesse se consolidar como alternativa competitiva ao atual governo, diminuindo a previsibilidade de um programa fiscal mais austero no próximo ciclo presidencial”. Portanto, a percepção de risco aumentou de forma relevante.
Ademais, Rubens Cittadin Neto, da Manchester Investimentos, afirma que a fragmentação da oposição amplia ainda mais a incerteza. Para ele, “o mercado precifica juros, e juros elevados refletem um fiscal expansionista”. Assim, quando cresce a probabilidade de menor austeridade no futuro, os ativos reagem negativamente.
R$ 183 bilhões evaporam da B3 em um único pregão
O choque político levou o valor de mercado das empresas listadas na B3 de R$ 4,93 trilhões para R$ 4,74 trilhões. No total, R$ 182,7 bilhões desapareceram em poucas horas. Bancos, estatais, varejistas e empresas sensíveis aos juros lideraram as perdas.
Maiores perdas em valor de mercado
- Itaú: – R$ 19,1 bi
- Petrobras: – R$ 17,7 bi
- Bradesco: – R$ 11,0 bi
- Banco do Brasil: – R$ 9,2 bi
- BTG Pactual: – R$ 7,2 bi
- Axia Energia: – R$ 7,9 bi
- Rede D’Or: – R$ 7,3 bi
O Banco do Brasil — visto como provável beneficiário em um cenário de centro-direita — caiu 7,07%. A Petrobras recuou 3,54%, pressionada também pelas declarações da presidente Magda Chambriard sobre a possibilidade de assumir a operação da Braskem.
Quedas generalizadas: 38 ações recuam mais de 5%
A pressão vendedora se espalhou. Entre os papéis com pior desempenho, estiveram:
- Yduqs: –10,84%
- AZZAS 2154: –9,96%
- Cyrela: –9,90%
- Magazine Luiza: –9,79%
- Assaí: –9,69%
- Multiplan: –8,89%
- Lojas Renner: –7,71%
Além disso, o setor bancário — considerado o “peso-pesado” do Ibovespa — respondeu por mais de R$ 50 bilhões em perdas.
Apenas quatro ações escaparam das perdas
Mesmo com o cenário negativo, quatro ações fecharam em alta, beneficiadas principalmente pela valorização do dólar:
- WEG: +2,64%
- Suzano: +1,94%
- Klabin: +1,47%
- Braskem: +0,77%
A alta das exportadoras ocorreu porque a moeda americana favorece receitas externas. Ademais, as negociações sobre o futuro societário da Braskem reforçaram o movimento positivo do papel.
Cenário externo mais estável limita impacto global
Enquanto o Brasil enfrentava forte estresse, os EUA registraram um pregão relativamente tranquilo. Os índices americanos subiram depois que o PCE — indicador de inflação ao consumidor — veio em linha com o esperado:
- Dow Jones: +0,22%
- S&P 500: +0,19%
- Nasdaq: +0,31%
O dado reforçou a chance de que o Federal Reserve corte juros na reunião do Fomc de 9 e 10 de dezembro. Conforme a ferramenta FedWatch, a probabilidade de redução de 0,25 ponto percentual atingiu 87,2%. Já na Europa, o Stoxx 600 teve leve queda de 0,01%.
O que esperar agora
A forte oscilação mostra que o mercado brasileiro entra na reta final do ano mais sensível às sinalizações eleitorais. A chamada “trade Tarcísio”, que vinha sendo precificada por parte dos investidores, perdeu força diante da nova composição eleitoral.
Além disso, a próxima semana terá uma Super Quarta, com decisões de juros no Brasil e nos EUA. No cenário doméstico, o salto dos juros futuros após o choque político pode influenciar o debate no Copom, sobretudo porque indica um ambiente de maior prêmio de risco.






























