O Ibovespa encerrou a sexta-feira (20) com queda de 1,15%, aos 137.115,83 pontos, na maior baixa diária em um mês. A queda foi puxada principalmente pela desvalorização das ações da Vale e por papéis sensíveis a juros, após o Banco Central elevar a Selic para 15% ao ano, o maior patamar desde 2006. O comunicado do Copom, com viés mais conservador, e o agravamento das tensões geopolíticas no Oriente Médio reforçaram a cautela dos investidores.
O dólar comercial acompanhou o movimento global de aversão ao risco e fechou em alta de 0,45%, cotado a R$ 5,525. Apesar da valorização pontual, a moeda americana acumulou queda de 0,26% na semana e de 10,55% no ano.
Selic elevada por mais tempo preocupa mercado
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), anunciada na quarta-feira (18), contrariou parte do mercado, que esperava manutenção dos juros. O colegiado elevou a Selic em 0,25 ponto percentual, sinalizando que o ciclo de alta deve ser interrompido, mas que a taxa permanecerá elevada por um “período bastante prolongado”.
Analistas interpretaram o comunicado como um indicativo de que cortes na taxa básica só ocorrerão a partir do segundo semestre de 2026. “A manutenção da Selic em 15% até meados do próximo ano pode ser suficiente para trazer a inflação para a meta em 2026”, avaliou Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos.
Vale lidera perdas; bancos e varejistas também recuam
Entre os destaques negativos do pregão, a ação da Vale (VALE3) caiu 2,58%, mesmo com a leve alta do minério de ferro na China. O setor bancário também sofreu: Banco do Brasil (BBAS3) recuou 2,11%, Bradesco (BBDC4) perdeu 0,84%, Itaú Unibanco (ITUB4) cedeu 0,52% e Santander (SANB11) fechou com queda de 2,03%.
No setor de varejo, Magazine Luiza (MGLU3) desvalorizou 5,35%, pressionada pela perspectiva de juros altos por mais tempo. Assaí (ASAI3) caiu 2,36%, enquanto Lojas Renner (LREN3) recuou 0,85%.
O volume financeiro negociado somou R$ 30,75 bilhões, influenciado pelo vencimento de opções sobre ações na B3, em sessão de ajuste após o feriado de Corpus Christi.
Geopolítica adiciona risco ao ambiente global
O conflito entre Israel e Irã continua sem sinais de recuo. A Casa Branca afirmou que o presidente Donald Trump decidirá nas próximas semanas sobre uma eventual intervenção militar dos EUA. As tensões aumentaram após novas trocas de acusações entre os dois países na ONU, enquanto líderes europeus tentam intermediar uma solução diplomática.
Na Rússia, o presidente Vladimir Putin demonstrou preocupação com o risco de uma escalada global, citando a possibilidade de uma nova guerra mundial, enquanto prossegue com os esforços militares na Ucrânia.
Wall Street fecha em baixa com tensão externa e “triple witching”
Os mercados em Nova York também reagiram com cautela. O S&P 500 recuou 0,22%, o Nasdaq perdeu 0,51% e o Dow Jones avançou discretamente 0,08%. O desempenho foi influenciado por vencimentos simultâneos de contratos (“triple witching”) e pelas declarações do diretor do Federal Reserve, Christopher Waller, que admitiu a possibilidade de corte de juros em julho, mas alertou para a necessidade de cautela diante de choques futuros.
O setor de tecnologia foi penalizado por notícias de que os EUA podem revogar isenções para o envio de tecnologia a fábricas chinesas. Companhias como Nvidia, Intel e TSMC registraram quedas entre 1% e 2%.
Expectativas para a próxima semana
Na terça-feira (24), o mercado acompanhará a divulgação da ata do Copom, com mais detalhes sobre a decisão de subir os juros. Também estão previstas, ao longo da semana, as leituras dos índices de gerentes de compras (PMIs) em várias economias.
No exterior, o foco continuará nas tensões geopolíticas. A percepção de risco global e a trajetória dos juros nos EUA devem continuar ditando o rumo dos mercados.