A indústria brasileira terá acesso a R$ 12 bilhões em financiamentos voltados à digitalização e modernização de equipamentos. O anúncio foi feito nesta semana pelo governo federal e integra a estratégia da Nova Indústria Brasil (NIB). A medida busca ampliar a competitividade do setor diante do aumento de custos internos e das tensões no comércio internacional.
O programa, chamado Crédito Indústria 4.0, será operado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Dessa forma, o objetivo é incentivar a adoção de tecnologias como robótica, inteligência artificial, computação em nuvem e Internet das Coisas (IoT) — conceito que conecta máquinas e dispositivos à internet para otimizar processos.
Redução no custo do financiamento
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a iniciativa responde a um dos principais entraves ao investimento produtivo no país: o preço do crédito. Nesse sentido, o modelo combina a Taxa Referencial (TR) a custos de mercado, o que pode reduzir em até 6% os juros hoje praticados.
De acordo com Samantha Cunha, gerente de Política Industrial da CNI, a linha de crédito abre espaço para que empresas de menor porte consigam investir em inovação. “No cenário de juros elevados, a redução do custo do financiamento torna possível modernizar o parque fabril e elevar a produtividade”, afirmou.
Além disso, ela destacou que as máquinas utilizadas no Brasil têm, em média, 14 anos de uso, índice que revela a defasagem tecnológica. Essa idade avançada impacta diretamente a eficiência, aumenta o gasto energético e eleva os custos de manutenção. Portanto, a modernização é vista como fundamental para ampliar a competitividade.
Integração com a Nova Indústria Brasil
A nova linha de crédito também está inserida no Plano Mais Produção (P+P), eixo de financiamento da NIB. Desde 2023, o programa já movimentou mais de R$ 470 bilhões em cerca de 168 mil projetos.
Além do apoio financeiro, a medida atende a dois pilares centrais da política industrial: inovação e transição energética. Assim, além de impulsionar a digitalização, a modernização das fábricas pode reduzir a emissão de carbono e melhorar a eficiência no consumo de energia. Por outro lado, a falta de atualização tecnológica tende a manter custos elevados e reduzir a competitividade global do setor.
Quem pode acessar os recursos
As condições variam de acordo com o porte da empresa e o tipo de projeto:
- Micro, pequenas e médias empresas: projetos de até R$ 50 milhões, via rede credenciada do BNDES;
- Médias e grandes empresas: projetos de até R$ 300 milhões, com financiamento direto junto ao banco;
- Fabricantes de máquinas 4.0: operações de até R$ 300 milhões também poderão ser apoiadas.
O BNDES concentrará R$ 10 bilhões, voltados principalmente à compra de máquinas com tecnologias digitais. Já a Finep destinará R$ 2 bilhões para empresas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Com isso, o governo busca reduzir desigualdades regionais e incentivar a modernização em áreas menos desenvolvidas.
Competitividade internacional
Para a CNI, o fortalecimento da indústria por meio da digitalização é essencial diante de um ambiente global marcado por disputas comerciais e reorganização das cadeias de valor. Além de enfrentar concorrentes estrangeiros, o setor precisa se adaptar rapidamente às novas exigências de sustentabilidade e eficiência.
“Estamos falando de criar condições para que a indústria se fortaleça e, consequentemente, o Brasil avance em crescimento sustentável”, disse Samantha Cunha. Assim, a expectativa é de que os investimentos em inovação resultem em ganhos de produtividade e maior solidez para o setor no longo prazo.