O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no Brasil, avançou 0,26% em julho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado, divulgado nesta terça-feira (12), veio abaixo da mediana das estimativas do mercado, que apontava 0,37% para o mês. No acumulado de 2025, a alta chega a 3,26%, e, em 12 meses, a 5,23% — acima do teto da meta do Banco Central, de 4,5%, considerando a margem de tolerância.
A desaceleração foi influenciada principalmente pela queda nos preços de alimentos e vestuário. O grupo Alimentação e Bebidas recuou 0,27%, com destaque para batata-inglesa (-20,27%), cebola (-13,26%) e arroz (-2,89%). Foi também registrada a primeira queda no preço do café em um ano e meio, com retração de 1,01%, após a colheita da safra 2025. Apesar da redução, o produto acumula alta de 41,46% no ano e de 70,51% em 12 meses. A queda ocorre em um cenário de volatilidade internacional, marcado pela tarifa de 50% aplicada pelo governo dos Estados Unidos às importações brasileiras de café — medida anunciada pelo presidente Donald Trump.
No vestuário, a retração foi de 0,54%, influenciada por reduções nos preços de roupas femininas e masculinas. Já o grupo Habitação registrou alta de 0,91%, impulsionada por reajustes na energia elétrica residencial em capitais como São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. A energia, sozinha, respondeu por 0,12 ponto percentual do IPCA de julho e acumula aumento de 10,18% no ano, maior alta para o período desde 2018. Sem esse impacto, o índice teria subido apenas 0,15%.
No grupo Transportes, a elevação foi de 0,35%, influenciada pelo aumento de 19,92% nas passagens aéreas durante a alta temporada e por reajustes no transporte público de algumas capitais. Em contrapartida, combustíveis tiveram queda de 0,64%, com recuos no etanol, óleo diesel, gasolina e gás veicular. O grupo Despesas Pessoais avançou 0,76%, puxado pelo aumento de 11,17% nos jogos de azar.
Regionalmente, São Paulo registrou a maior variação mensal (0,46%), enquanto Campo Grande teve deflação de 0,19%, reflexo da queda de alimentos e energia elétrica. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para famílias com renda de até cinco salários mínimos, subiu 0,21% no mês, acumulando alta de 3,30% em 2025 e de 5,13% em 12 meses.
Economistas recomendam cautela ao Copom
Apesar do alívio mensal, analistas avaliam que a inflação segue pressionada, principalmente pelo setor de serviços, cujos preços costumam ser mais resistentes a quedas. “O resultado foi positivo, mas ainda exige prudência. O Copom deve manter a política monetária restritiva por mais tempo”, afirmou Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Leonardo Costa, do ASA, destacou que bens industrializados vêm surpreendendo para baixo, influenciados pela valorização do real, mas os serviços desaceleram lentamente. Já André Valério, do Inter, prevê deflação em agosto devido ao bônus de Itaipu, mas reforça que cortes na taxa Selic só devem ocorrer em dezembro. O PicPay mantém projeção de Selic a 15% até o fim de 2025.
Para Claudia Moreno, do C6 Bank, o arrefecimento recente pode ser temporário, diante de um mercado de trabalho aquecido e expectativa de câmbio mais depreciado. A instituição projeta IPCA de 5% em 2025 e 5,7% em 2026.