O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou que a inflação acumulada em 12 meses deve retornar ao intervalo de tolerância da meta somente ao final do primeiro trimestre de 2026. A informação foi divulgada em carta oficial enviada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN), após o descumprimento da meta inflacionária por seis meses consecutivos até junho deste ano.
A correspondência, exigida sempre que o BC ultrapassa o teto da meta por um período prolongado, foi publicada após a divulgação do IPCA acumulado em 12 meses, que alcançou 5,35%, superando o teto da banda — que vai de 1,5% a 4,5%, com centro em 3%.
Política monetária contracionista deve continuar
No documento, Galípolo explicou que o Comitê de Política Monetária (Copom) continuará vigilante diante do cenário inflacionário. O texto afirma que o BC poderá ajustar os juros básicos da economia, atualmente fixados em 15% ao ano, o maior patamar em duas décadas.
“O Copom não hesitará em retomar o ciclo de alta, caso julgue necessário para assegurar a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante”, destacou o presidente do BC. Segundo ele, a política monetária deverá permanecer significativamente contracionista por um período prolongado, como forma de conter pressões inflacionárias persistentes.
Desde setembro de 2024, o BC elevou a taxa Selic em 4,5 pontos percentuais, encerrando o ciclo de aperto monetário na reunião de junho de 2025. A carta pontua que a autoridade monetária considera apropriado observar os efeitos defasados da alta de juros sobre a economia real, antes de decidir novos ajustes.
Fatores que explicam o descumprimento da meta
Na carta enviada ao CMN, o BC listou os principais fatores que levaram ao desvio da meta inflacionária. Entre eles estão:
- Altas inesperadas nos preços da gasolina e de alimentos industrializados, com destaque para o café;
- Pressões vindas dos serviços subjacentes, que são mais sensíveis à atividade econômica;
- Aquecimento do mercado de trabalho, com queda da taxa de desemprego para 6,2%, a menor da série histórica;
- Desancoragem das expectativas de inflação, com projeções acima da meta desde meados de 2024, mesmo para prazos mais longos;
- Aumento nos preços administrados, impulsionado pela crise hídrica, que levou à mudança nas bandeiras tarifárias da energia elétrica.
Compromisso com a meta de inflação
O BC reiterou seu compromisso com a meta central de 3% e informou que manterá sua estratégia de política monetária com foco na estabilidade de preços. A instituição também se comprometeu a reforçar a comunicação institucional sobre as razões do descumprimento da meta, as ações corretivas em curso e o cenário projetado de convergência inflacionária.