O percentual de famílias brasileiras com dívidas alcançou 78,4% em junho, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O dado representa o quinto aumento mensal consecutivo e reflete a continuidade de um cenário de crédito mais caro, inflação persistente e pressão sobre o orçamento doméstico.
Apesar da alta no endividamento, a taxa de inadimplência manteve-se estável em 29,5% na comparação com maio. Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve leve redução de 0,4 ponto percentual no índice de famílias endividadas, que estava em 78,8% em junho de 2024.
A pesquisa considera como dívidas as obrigações financeiras nas modalidades de cartão de crédito, cheque especial, carnês, crédito consignado, empréstimos pessoais, prestações de veículos e imóveis, além de cheques pré-datados. O cartão de crédito continua sendo o principal instrumento de endividamento, utilizado por 83,3% dos consumidores com dívidas, embora tenha recuado em relação aos 86,4% registrados um ano antes. Em contrapartida, os carnês ganharam espaço, com aumento de participação de 16% para 17% no mesmo período.
Percepção do endividamento piora e dívidas se concentram no curto prazo
A proporção de consumidores que se consideram “muito endividados” cresceu de 15,5% em maio para 15,9% em junho, evidenciando maior preocupação com a sustentabilidade do orçamento familiar. A CNC também identificou um aumento no comprometimento da renda com dívidas de curto prazo — aquelas com vencimento em até seis meses — e queda na fatia de famílias comprometidas com dívidas por mais de um ano, que chegou a 32,2%, o menor patamar desde março de 2024.
“O consumidor está mais cauteloso, evitando alongar o prazo das dívidas, o que indica maior consciência diante do encarecimento do crédito”, avaliou o presidente da CNC, José Roberto Tadros, em nota.
O tempo médio de atraso no pagamento das dívidas também teve leve redução, passando de 64,3 dias em maio para 64,1 dias em junho. O percentual de inadimplentes com contas em atraso por mais de 90 dias caiu para 47,3%.
Renda mais baixa concentra maiores níveis de endividamento e inadimplência
As famílias de renda mais baixa são as mais impactadas. Entre aquelas com rendimento mensal de até três salários mínimos, o endividamento subiu de 81,0% para 81,1%. Já na faixa de três a cinco salários mínimos, o índice avançou de 80,3% para 80,9%. Por outro lado, entre os que recebem mais de dez salários mínimos, o percentual de endividados recuou de 67,6% para 67,5%.
A inadimplência também cresceu entre as famílias da classe média baixa. Na faixa entre três e cinco salários mínimos, a taxa passou de 28,9% para 29,4% em junho. Em contrapartida, o grupo com renda superior a dez salários mínimos teve queda no índice de inadimplência, de 15,0% para 14,9%.
Expectativa é de alta contínua até o fim do ano
Segundo o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, a tendência é de que o nível de endividamento continue em alta nos próximos meses. A projeção é de aumento de até 2,5 pontos percentuais no índice de famílias endividadas e avanço de 0,7 ponto percentual na inadimplência até o fim do ano.
“A inadimplência pode subir de forma mais controlada, mas o cenário exige atenção, principalmente diante da ampliação de programas públicos de crédito”, alertou Bentes.
Apesar dos desafios, o levantamento da CNC também trouxe sinais positivos. O comprometimento da renda com dívidas caiu para 29,6% em junho, uma retração de 0,2 ponto percentual em relação a maio. A proporção de famílias que comprometem mais da metade da renda com dívidas também recuou, passando para 19,2%.