O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) subiu 0,26% em junho, desacelerando frente à alta de 0,36% registrada em maio, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (26) pelo IBGE. A variação anual acumulada chegou a 5,27%, abaixo dos 5,40% verificados nos 12 meses anteriores, mas ainda distante da meta de 3% ao ano estabelecida pelo Banco Central.
Embora o resultado tenha vindo levemente abaixo das projeções de mercado — o consenso da Reuters estimava avanço de 0,30% no mês e 5,31% no acumulado —, economistas alertam que o núcleo de preços dos serviços permanece em patamar elevado, indicando persistência inflacionária no setor mais sensível à atividade econômica.
O grupo Habitação teve a maior contribuição para o índice, com alta de 1,08%, puxada pela energia elétrica residencial, que subiu 3,29% devido à adoção da bandeira tarifária vermelha patamar 1. Alimentação e bebidas, por outro lado, recuaram 0,02%, após nove meses consecutivos de alta, com destaque para a queda nos preços do tomate (-7,24%), ovo de galinha (-6,95%) e arroz (-3,44%).
Serviços seguem pressionados
Apesar da desaceleração do índice cheio, o núcleo de inflação de serviços, métrica considerada chave para a política monetária, continua a preocupar. De acordo com Claudia Moreno, economista do C6 Bank, os serviços subjacentes permaneceram estáveis em 6,6% nos 12 meses até junho, nível considerado elevado. “Mesmo com o alívio vindo dos preços das commodities, fatores domésticos como o mercado de trabalho aquecido seguem pressionando a inflação”, afirmou.
Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, também destacou os serviços subjacentes como foco de atenção. “A alta anual de 6,58% indica que, apesar da boa composição do IPCA-15, ainda há um longo caminho para trazer a inflação aos níveis compatíveis com a meta”, analisou. A consultoria projeta para julho um IPCA próximo de 0,20%.
Na avaliação de Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, a economia brasileira segue operando com hiato do produto positivo — quando o nível de atividade está acima do potencial —, o que dificulta a convergência inflacionária. “Os núcleos continuam pressionados e as expectativas seguem desancoradas, o que justifica a manutenção de uma política monetária contracionista por um período prolongado”, disse.
Projeções e política monetária
O resultado de junho já levou algumas instituições a revisarem suas estimativas para o IPCA de 2025. A Suno reduziu sua projeção de 5,5% para 5,2%, enquanto o C6 Bank trabalha com cenário base de 5,3%, podendo ser revisado para baixo se a trajetória de desinflação continuar nos próximos meses.
No entanto, todos os analistas consultados apontam que a inflação segue acima do teto da meta para 2025, que é de 4,5%, e não há sinalização de que o índice vá convergir de forma consistente para esse patamar no curto prazo.
Para Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, ainda que haja sinais de alívio nos serviços mais rígidos quando se observa a métrica trimestralizada, o patamar geral segue desconfortável para o Banco Central. “Mesmo com alguma melhora, a inflação sistematicamente acima da meta impede qualquer expectativa de flexibilização monetária no curto prazo”, disse.
Diante desse cenário, o mercado aposta na manutenção da taxa Selic em 15% ao ano até pelo menos janeiro de 2026. “O processo de desinflação se tornou mais claro, mas ainda insuficiente para justificar cortes. O BC deve seguir com cautela até que os núcleos mostrem trajetória mais benigna”, avaliou Luciano Costa, da Monte Bravo.
IPCA-15: principais impactos em junho
- Alta: Energia elétrica residencial (+3,29%), café moído (+2,86%), ônibus urbano (+1,39%), plano de saúde (+0,57%), refeição fora de casa (+0,60%);
- Queda: Tomate (-7,24%), ovo de galinha (-6,95%), arroz (-3,44%), gasolina (-0,52%);
- Grupos com maior peso: Habitação (+1,08%), Vestuário (+0,51%), Transportes (+0,06%), Alimentação e bebidas (-0,02%).