O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as importações originadas do Brasil. A medida, que entra em vigor em 1º de agosto, foi comunicada por meio de uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada nas redes sociais. A decisão provocou forte reação nos mercados e levou o governo brasileiro a convocar uma reunião de emergência no Palácio do Planalto.
Segundo Trump, a nova tarifa tem como justificativas a “relação comercial muito injusta” entre os dois países e a forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Jair Bolsonaro, que responde a um processo por tentativa de golpe de Estado em janeiro de 2023. O presidente americano classificou o julgamento como uma “vergonha internacional” e acusou o Supremo Tribunal Federal de censurar plataformas digitais dos EUA.
Reação do governo Lula
Diante do anúncio, o presidente Lula convocou os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Geraldo Alckmin (Indústria, Comércio e vice-presidente) e Mauro Vieira (Relações Exteriores) para uma reunião de emergência em Brasília. Em declaração publicada na rede social X, Lula afirmou que o Brasil é um país soberano com instituições independentes e que não aceitará ser tutelado por outra nação.
“Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da lei brasileira de reciprocidade econômica”, declarou Lula. O presidente também enfatizou o compromisso do país com a liberdade de expressão e o respeito às instituições democráticas.
Impactos econômicos imediatos
O anúncio da tarifa teve impacto direto nos mercados financeiros. O Ibovespa caiu 1,31%, aos 137.480 pontos, e o dólar subiu 1,04%, encerrando o dia a R$ 5,50. Os contratos futuros do índice e da moeda também oscilaram com forte volatilidade.
Especialistas avaliam que, se efetivada, a medida pode ter impacto relevante na economia brasileira.
“A tarifa representa um risco para a indústria de base, o agronegócio e setores exportadores. Pode pressionar a curva de juros e afetar o crescimento do PIB”, afirmou Jorge Ferreira, professor de Finanças da ESPM.
Setores mais afetados
Entre os segmentos mais prejudicados estão o café, o suco de laranja e os calçados. Segundo Marcos Matos, do Cecafé, os exportadores acompanham com preocupação a situação, já que o Brasil é o principal fornecedor de café para os EUA. O setor tenta negociar a inclusão do produto em uma lista de exceção à tarifa.
A CitrusBR, que representa a indústria do suco de laranja, destacou que os impactos também recaem sobre os empregos nos EUA, dado que o Brasil é fornecedor histórico da matéria-prima. Já a Abicalçados, que representa a indústria calçadista nacional, classificou a decisão como um “balde de água fria” e alertou que os EUA são o principal destino dos calçados brasileiros.
Análises e desdobramentos
Analistas apontam que a tarifa tem forte componente político e simbólico. Para Eduardo Mello, professor de Relações Internacionais, trata-se de uma retaliação mais voltada à base eleitoral de Trump do que a uma política comercial efetiva. “Ainda não é certo que essa tarifa será implementada, mas o sinal enviado é negativo”, disse.
Trump também anunciou uma investigação da Seção 301 contra o Brasil, mecanismo que pode permitir novas sanções por práticas comerciais consideradas desleais. A medida já foi utilizada anteriormente contra a China.
A aplicação da tarifa ocorre em um contexto de maior tensão entre os EUA e os países do BRICS, especialmente após declarações de Trump contra políticas “antiamericanas” do bloco. Lula, por sua vez, encerrou a cúpula do BRICS com críticas à dependência do comércio internacional em relação ao dólar.