O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, de forma unânime, manter a taxa Selic em 15% ao ano na reunião realizada nesta quarta-feira (30), encerrando formalmente o ciclo de aperto monetário iniciado em setembro de 2024. A decisão confirma as sinalizações já emitidas em reuniões anteriores e corresponde às expectativas da maior parte do mercado financeiro.
Segundo o comunicado oficial, a autoridade monetária considera que a taxa atual deve permanecer em patamar contracionista — ou seja, com juros elevados que restringem o crédito e o consumo — por um período prolongado, com o objetivo de garantir a convergência da inflação à meta de 3% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
O Copom avaliou que o impacto das elevações anteriores ainda está em curso e que os próximos passos da política monetária dependerão da evolução dos indicadores econômicos. Apesar da pausa, o Comitê afirmou que “seguirá vigilante” e não hesitará em retomar as altas da taxa básica de juros caso julgue necessário.
Pressões persistentes sobre a inflação
O BC destacou que a inflação continua acima do centro da meta, tanto nos índices cheios quanto nas chamadas medidas subjacentes — que desconsideram itens mais voláteis, como combustíveis e alimentos. A projeção do Copom para o IPCA do primeiro trimestre de 2027, horizonte relevante da política monetária, é de 3,4%.
Para os anos de 2025 e 2026, a expectativa do mercado (captada pela pesquisa Focus) permanece em 5,1% e 4,4%, respectivamente — ambos acima da meta oficial. Entre os principais fatores de risco para a alta da inflação, o Comitê cita:
- Desancoragem das expectativas inflacionárias, ou seja, quando o mercado deixa de acreditar que o BC cumprirá a meta;
- Resiliência da inflação de serviços, impulsionada por um mercado de trabalho aquecido;
- Interferência de políticas internas e externas que possam pressionar o câmbio ou aumentar os custos.
Por outro lado, há também riscos de baixa para a inflação, como uma eventual desaceleração econômica mais intensa no Brasil, a queda global na atividade ou a redução nos preços das commodities, como petróleo e alimentos, que poderia aliviar os preços.
Influência externa e política fiscal no radar
O Copom ressaltou que o cenário internacional permanece adverso e incerto, especialmente por conta da política econômica dos Estados Unidos. A recente decisão do governo americano de elevar tarifas de importação para produtos brasileiros, assinada pelo presidente Donald Trump, é vista como um fator de preocupação, com potencial para afetar o comércio exterior e pressionar o câmbio.
O Comitê também manifestou atenção aos desdobramentos da política fiscal brasileira, que impactam tanto as expectativas de inflação quanto a dinâmica dos juros e dos ativos financeiros. A condução das contas públicas, nesse contexto, pode influenciar diretamente a credibilidade da política monetária e o comportamento dos investidores.
Histórico recente da Selic
O atual ciclo de alta da Selic começou em setembro de 2024, com a taxa subindo de 10,50% para 10,75% ao ano. Desde então, houve sucessivos aumentos:
- 11,25% em novembro,
- 12,25% em dezembro,
- 13,25% em janeiro de 2025,
- 14,25% em março,
- 14,75% em maio,
- até o nível atual de 15%, estabelecido em junho.
Essa elevação teve como objetivo conter a inflação e moderar o crescimento econômico, que vinha acima do esperado.
Cautela e flexibilidade na condução dos juros
Embora o ciclo de elevação tenha sido interrompido, o BC enfatizou que a política monetária segue restritiva e poderá ser ajustada conforme o comportamento da inflação e da atividade econômica. “O cenário atual exige cautela”, diz o comunicado. O Comitê reforçou que não hesitará em retomar os aumentos da Selic se houver necessidade de conter novas pressões inflacionárias.
A mensagem deixa claro que a taxa de juros permanecerá elevada enquanto as expectativas inflacionárias não estiverem plenamente ancoradas — isto é, alinhadas à meta — e enquanto o cenário global seguir incerto.