O governo brasileiro estima que 35,9% das exportações para os Estados Unidos, em valores, serão atingidas pela nova tarifa de 50% sobre exportações brasileiras, determinada por decreto do presidente norte-americano Donald Trump. A medida entra em vigor em 7 de agosto, conforme estabelecido na ordem executiva assinada em 30 de julho, que prevê a aplicação da tarifa sete dias após sua publicação.
A decisão impõe um aumento significativo nas tarifas de importação da maioria dos produtos brasileiros. No entanto, 694 itens foram excluídos da nova alíquota, entre eles aeronaves civis, suco e polpa de laranja, combustíveis e celulose. Os dados preliminares foram obtidos por fontes ligadas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e à Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil).
Embraer e aviação escapam do tarifaço
Entre os setores mais beneficiados pelas exceções está a indústria aeronáutica. De acordo com o decreto, 565 produtos relacionados à aviação civil ficaram fora da nova taxação, incluindo peças, motores, turbinas e as próprias aeronaves. Com isso, empresas como a Embraer, maior fabricante brasileira do setor, seguirão pagando a tarifa anterior de 10%, e não os 50% anunciados.
A Embraer exportou cerca de US$ 3,8 bilhões em aeronaves em 2024, sendo que os Estados Unidos compraram mais de 60% desse total. Em nota, a empresa afirmou que a exclusão “confirma o impacto positivo e a importância estratégica” de sua operação para as economias dos dois países. Ainda assim, a fabricante defende o retorno à política de tarifa zero para a indústria aeroespacial global.
Segundo estimativas internas, a manutenção da tarifa reduzida evita um aumento de até US$ 9 milhões por aeronave exportada, o que seria inviável para muitos contratos comerciais vigentes.
Café e carne bovina estão entre os mais afetados
Apesar das exceções, setores estratégicos da economia brasileira serão diretamente impactados pela nova política tarifária. Produtos como café, carne bovina, frutas e madeira serrada não foram poupados e agora enfrentam um cenário de maior competitividade no mercado norte-americano.
A Amcham Brasil calcula que as exceções correspondem a 43,4% dos US$ 42,3 bilhões exportados aos EUA em 2024 — cerca de US$ 18,4 bilhões em valor foram poupados do tarifaço. Ainda assim, a entidade alerta que “há um impacto expressivo sobre cadeias globais de valor”, e recomenda um diálogo urgente entre os governos para evitar rupturas na relação comercial bilateral.
Celulose e suco de laranja escapam; papel e proteína animal, não
O setor de celulose de fibra curta à base de eucalipto, importante produto da empresa Suzano, foi incluído na lista de exceções. Em 2024, cerca de 80% da celulose consumida nos EUA teve origem no Brasil, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
Por outro lado, itens como papel para embalagem, sacos industriais e painéis de madeira não foram poupados. A Ibá demonstrou preocupação com os efeitos indiretos da tarifa, que podem afetar a cadeia de exportação de frutas e proteínas animais, frequentemente embaladas com esses insumos.
O suco de laranja, tanto concentrado quanto congelado, foi incluído nas exceções, aliviando o setor agrícola. Especialistas apontam que a exclusão pode ter evitado um aumento de preços no mercado americano, em um momento de pressão inflacionária.
Quadro tarifário detalhado
De acordo com fontes do governo brasileiro:
- 35,9% das exportações estarão sujeitas à nova tarifa de 50%;
- 44,6% continuarão pagando a tarifa atual de 10%;
- 19,5% se enquadram em alíquotas globais dos EUA, variando entre 25% e 50%, conforme o tipo de produto.
As negociações seguem em curso. O MDIC afirmou, sob anonimato, que o Brasil continuará buscando “a remoção da nova alíquota de 50% para os 35,9% dos produtos mais afetados”.
Segundo o decreto de Trump, os carregamentos embarcados antes de 7 de agosto poderão chegar aos EUA sob a tarifa anterior, desde que desembarquem até 5 de outubro.