O empresário Nelson Tanure obteve sinal verde do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para seguir com seu plano de assumir o controle indireto da Braskem (BRKM5), uma das maiores petroquímicas da América Latina. A aprovação, sem restrições, foi concedida pela Superintendência-Geral do órgão antitruste em despacho publicado nesta quarta-feira (17).
A decisão refere-se à compra da holding NSP Investimentos S.A., atualmente em recuperação judicial e pertencente à Novonor (antiga Odebrecht), que detém 50,1% do capital votante da Braskem. A aquisição será feita pelo fundo Petroquímica Verde, ligado a Tanure. Como o negócio envolve a controladora, e não diretamente ações negociadas em bolsa, não há obrigação legal de realizar uma OPA (oferta pública de aquisição).
No entanto, o aval do Cade ainda depende do cumprimento de um prazo legal de 15 dias, durante o qual o processo pode ser questionado por terceiros ou avocado pelo Tribunal da autarquia. Após esse período, a operação poderá ser concluída formalmente.
Negociação com Petrobras e bancos segue pendente
Mesmo com a aprovação preliminar do Cade, Tanure enfrenta obstáculos para concluir a transação. Ele ainda precisa obter o consentimento de outros acionistas relevantes da Braskem, como a Petrobras (PETR4), que possui participação relevante na companhia e direito de preferência na aquisição de ações da Novonor, conforme previsto em acordo de acionistas.
Outro desafio está na postura dos credores da Novonor, como o BNDES, que utilizam as ações da Braskem como garantia de empréstimos tomados durante o período da Lava Jato — estimados em cerca de R$ 15 bilhões. Com a desvalorização das ações, hoje avaliada em menos de 25% desse montante, os bancos demonstram ceticismo sobre a oferta do empresário, conforme reportado por fontes ligadas às negociações.
Tanure reconhece a importância de um entendimento com os bancos: “O sucesso da operação passa, necessariamente, por um alinhamento com eles, que são os principais credores”, afirmou.
Tanure defende permanência da Novonor no acordo
Em declarações recentes à imprensa, Tanure revelou que iniciou conversas com a Novonor após o fracasso de um acordo com a Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc), há mais de um ano. Segundo ele, a Novonor deve continuar como acionista minoritária na nova estrutura, com uma participação reduzida de 38,3% para cerca de 3,5%.
“Eu não faria um acordo se eles não permanecessem envolvidos”, declarou o empresário.
Papel estratégico da Petrobras
Tanure também defende um protagonismo maior da Petrobras na Braskem. Para ele, a presença da estatal é “pequena” na operação da petroquímica e deveria ser ampliada. “Vamos convir que a Petrobras tem uma senioridade e um know how de gestão de empresas petrolíferas comparável às melhores do mundo”, afirmou.
Caso a transação seja concluída, a nova estrutura acionária poderá redesenhar o futuro da Braskem, influenciando desde decisões estratégicas até o posicionamento da companhia no mercado global de petroquímica.