O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve se reunir ainda nesta semana com Scott Bessent, novo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, em uma tentativa de preparar terreno para um eventual encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump. A conversa visa atenuar os recentes atritos comerciais e reforçar que o governo brasileiro deseja manter o diálogo com autoridades americanas, mesmo após a adoção de tarifas punitivas por parte de Washington.
Segundo Haddad, o encontro com Bessent busca “despolitizar” as relações bilaterais e abrir caminho para uma conversa mais ampla entre os chefes de Estado.
“As relações comerciais não devem ser contaminadas por percepções políticas. Uma reunião com o secretário do Tesouro pode pavimentar o caminho para um encontro, se for conveniente para ambos os presidentes”, afirmou o ministro em coletiva de imprensa.
A sinalização ocorre após o governo Trump anunciar uma nova rodada de tarifas sobre produtos brasileiros, sob alegação de “emergência nacional”. A medida, formalizada por meio de ordem executiva, impôs sobretaxas de até 50% a diversas categorias de exportação. Apesar disso, cerca de 44,6% dos produtos brasileiros ficaram de fora da medida, incluindo setores estratégicos como aviação, celulose, petróleo, suco de laranja e minério de ferro, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Governo brasileiro evita confronto direto
Apesar do endurecimento comercial, Haddad afirmou à imprensa que o Brasil não pretende abandonar a mesa de negociações. A estratégia do Planalto, segundo o ministro, é manter canais abertos e minimizar impactos econômicos negativos decorrentes da tensão diplomática.
Além das tarifas, outro ponto sensível que pode surgir na conversa entre Haddad e Bessent é a aplicação da Lei Magnitsky — legislação norte-americana que permite a imposição de sanções contra autoridades estrangeiras envolvidas em supostas violações de direitos humanos. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi recentemente citado como alvo da medida. Haddad destacou que pretende explicar ao governo dos EUA o funcionamento da independência dos Poderes no Brasil e a atuação do Judiciário em casos sensíveis.
Embora a data exata da reunião com Bessent ainda não esteja confirmada, Haddad indicou estar disposto a realizar um encontro presencial. O governo também considera a possibilidade de enviar o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin (PSB), para participar das negociações diretamente nos Estados Unidos.
Sinalizações de diálogo entre Lula e Trump
Do lado americano, Donald Trump declarou que está aberto a conversar com o presidente brasileiro. “Ele pode ligar quando quiser”, afirmou, em tom conciliador, durante entrevista no jardim da Casa Branca. Trump disse “amar o povo brasileiro”, mas criticou decisões recentes do governo brasileiro, classificando-as como “erradas”.
Lula, por sua vez, respondeu que mantém disposição para o diálogo. A possibilidade de uma conversa direta entre os presidentes passou a ser considerada nos bastidores do Palácio do Planalto, especialmente durante a preparação para a Assembleia Geral da ONU, prevista para setembro em Nova York. Até o momento, porém, não há confirmação de uma reunião bilateral.
Especialistas em relações internacionais alertam que o cenário requer cautela. A imprevisibilidade de Trump e o contexto eleitoral norte-americano são fatores que tornam incerto qualquer avanço mais concreto nas negociações diplomáticas neste momento.