A inflação ao consumidor registrou avanço em julho, pressionada principalmente pelos reajustes na tarifa de energia elétrica residencial e nos jogos lotéricos, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (7) pela Fundação Getulio Vargas (FGV). No mesmo período, os preços ao produtor seguiram trajetória oposta, com queda pelo quinto mês consecutivo, conforme informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Índice de Preços ao Consumidor – Disponibilidade Interna (IPC-DI), que mede a inflação no varejo, subiu de 0,16% em junho para 0,37% em julho. Os principais responsáveis por essa aceleração foram a energia elétrica residencial, com alta de 2,73%, e os jogos lotéricos, que subiram 13,26%. Outras contribuições relevantes vieram das passagens aéreas (4,59%), aluguel residencial (0,74%) e condomínio (1,04%).
Segundo Matheus Dias, economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV), os reajustes impactaram diretamente os custos para o consumidor. “Os preços ao consumidor foram impactados, principalmente, pelos reajustes nos jogos lotéricos e pelas tarifas de energia elétrica”, afirmou em nota.
Entre os grupos de despesa analisados, quatro apresentaram variação mais expressiva em julho: Saúde e Cuidados Pessoais (de -0,02% para 0,69%), Despesas Diversas (de 0,05% para 1,10%), Habitação (de 0,57% para 0,88%) e Alimentação (de -0,19% para -0,04%). Por outro lado, houve desaceleração ou queda nos grupos de Educação, Leitura e Recreação (de 1,03% para 0,66%), Vestuário (de 0,31% para -0,07%), Transportes (de -0,15% para -0,18%) e Comunicação (de -0,07% para -0,09%).
O núcleo do IPC-DI — que desconsidera itens com variações extremas — teve alta de 0,33% em julho, ligeiramente acima dos 0,32% registrados em junho. Já o índice de difusão, que aponta a proporção de itens com aumento de preços, subiu de 50,97% para 56,77%.
Queda nos preços ao produtor reflete custos menores com commodities
Na contramão da inflação ao consumidor, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) recuou 1,25% em junho, marcando o quinto mês seguido de deflação no setor industrial. Em maio, o recuo havia sido de 1,21%. Apesar da sequência de quedas mensais, o acumulado em 12 meses ainda registra alta de 3,24%.
O IPP avalia a variação de preços na chamada “porta da fábrica”, ou seja, sem considerar impostos ou frete, em 24 atividades das indústrias extrativas e de transformação.
De acordo com Murilo Alvim, gerente do IPP no IBGE, fatores externos têm influenciado esse movimento. “Um dos fatores é a cotação do dólar, que vem apresentando quedas. Outro é a desvalorização de commodities como petróleo e minério de ferro no mercado internacional, o que reduz os custos de produção da indústria brasileira”, explicou.
Entre os setores com maiores quedas de preços em junho, destacaram-se alimentos (-3,43%), refino de petróleo e biocombustíveis (-2,53%) e produtos de metal (-1,85%). A indústria alimentícia respondeu sozinha por -0,88 ponto percentual da variação total do índice.
Segundo o IBGE, o segmento de abate e fabricação de produtos de carne — especialmente carne de aves — foi um dos principais responsáveis pela retração nos alimentos, com queda de 4,34%. O excesso de oferta no mercado interno, provocado por restrições impostas ao Brasil por causa da gripe aviária, contribuiu para o recuo dos preços.
Já no setor de refino de petróleo, a redução está ligada à matéria-prima principal da atividade. “O petróleo vem acumulando quedas ao longo do ano, o que reduz os custos de fabricação, apesar da alta pontual em junho devido a tensões geopolíticas em regiões produtoras e rotas estratégicas como o Estreito de Ormuz”, explicou Alvim.