A intenção de investimento da indústria da construção caiu em agosto para 40 pontos, o menor patamar desde abril de 2023, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). O principal motivo é o custo elevado do crédito, consequência das taxas de juros ainda altas, que dificultam o financiamento de novos projetos e pressionam toda a cadeia produtiva.
Juros altos freiam lançamentos
De acordo com Renato Correia, presidente da CBIC, a ausência de cortes mais consistentes na taxa básica de juros desestimula operações de crédito essenciais ao setor. Ele avalia, no entanto, que o fluxo de lançamentos pode ser retomado até o fim do ano.
Dados da pesquisa Indicadores Imobiliários Nacionais mostram que, no segundo trimestre de 2025, foram comercializados 102.896 imóveis, movimentando cerca de R$ 68 bilhões. O resultado representa estabilidade em relação aos quatro trimestres anteriores, mas não indica aceleração no ritmo de vendas.
Confiança em queda
Apesar de sinais pontuais de melhora em julho — como o aumento da utilização da capacidade operacional das empresas e crescimento do nível de atividade e de empregados —, o humor dos empresários segue negativo.
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria (ICEI) recuou 1,3 ponto em agosto, para 45,8 pontos. Valores abaixo de 50 revelam pessimismo. A percepção de que os custos de financiamento permanecem elevados e que a demanda pode perder força ajuda a explicar o resultado.
A sondagem também identificou retração nas expectativas: o índice de nível de atividade caiu 1,7 ponto (51,4), o de novos empreendimentos recuou 0,4 ponto (50,1) e o de compras de insumos e matérias-primas caiu 2,4 pontos (49,8), este último abaixo da linha que indica crescimento.
Efeito cascata na cadeia produtiva
O economista-chefe do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Celso Petrucci, afirma que a dificuldade de acesso a crédito em condições favoráveis pode levar construtoras a adiar projetos e reduzir a compra de materiais. Isso impacta fornecedores de insumos básicos, como cimento e aço, e empresas de serviços especializados, ampliando o risco de perda de empregos.
Segundo Petrucci, outra barreira é a limitação de fontes de financiamento. O chamado funding — busca de capital para viabilizar projetos, em especial por meio de recursos do FGTS — tem se mostrado insuficiente para sustentar a expansão.
Ele também defende uma revisão no programa Minha Casa Minha Vida, cujo último ajuste de subsídios ocorreu em julho de 2023. Para o economista, a defasagem dos valores diante da alta dos custos de construção compromete o alcance do programa.
Metodologia
A pesquisa Sondagem Indústria da Construção, realizada pela CNI em parceria com a CBIC, ouviu 318 empresas entre 1º e 12 de agosto, sendo 122 de pequeno porte, 131 de médio porte e 65 de grande porte.