O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no Brasil, apresentou queda de 0,11% em agosto de 2025, informou nesta quarta-feira (10) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado representa a primeira deflação desde agosto de 2024 e a maior retração desde setembro de 2022, quando houve recuo de 0,29%.
No acumulado do ano, a inflação soma alta de 3,15%. Em 12 meses, o índice está em 5,13%, ligeiramente acima da projeção do mercado, de 5,09%. A meta perseguida pelo Banco Central é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Habitação e energia elétrica puxam queda
A principal contribuição para a deflação veio do grupo Habitação, que caiu 0,90% e retirou 0,14 ponto percentual do índice geral. O recuo foi impulsionado pela energia elétrica residencial, com queda de 4,21%, reflexo da distribuição do chamado Bônus de Itaipu — um crédito concedido nas faturas em agosto.
Apesar desse alívio, o mês foi marcado pela vigência da bandeira tarifária vermelha patamar 2, que acrescenta R$ 7,87 a cada 100 kWh consumidos. Também houve reajustes distintos em capitais como São Luís, Vitória, Belém e São Paulo, que impactaram de forma desigual os consumidores.
Alimentação em queda pelo terceiro mês
O grupo Alimentação e bebidas, de maior peso no IPCA, registrou, assim, a terceira deflação seguida (-0,46%). No caso da alimentação no domicílio, houve recuo de 0,83%, principalmente devido às quedas em produtos básicos como tomate (-13,39%), batata-inglesa (-8,59%), cebola (-8,69%), arroz (-2,61%) e café moído (-2,17%). Por outro lado, a alimentação fora de casa desacelerou, passando de 0,87% em julho para 0,50% em agosto.
Transportes também contribuem
Os Transportes tiveram queda de 0,27%, refletindo a redução nos preços de passagens aéreas (-2,44%) e combustíveis (-0,89%). Entre os derivados, a gasolina recuou 0,94%, o etanol caiu 0,82% e o gás veicular, 1,27%. O óleo diesel foi a exceção, com alta de 0,16%.
Pressões em serviços e núcleos de inflação
Apesar da deflação, economistas alertam que o resultado tem caráter temporário. Segundo Leonardo Costa, da ASA Investments, os alívios vieram de fatores pontuais, como a queda na energia elétrica e promoções da “Semana do Cinema”, que reduziram os preços de ingressos em 4%.
Já os chamados núcleos de inflação — medidas que desconsideram itens mais voláteis para captar a tendência subjacente dos preços — permaneceram estáveis em 0,3% em agosto. Para especialistas, isso indica persistência das pressões, sobretudo em serviços, setor diretamente influenciado pelo mercado de trabalho aquecido e pela alta dos salários.
Alexandre Maluf, economista da XP, destacou ainda que bens industrializados, como automóveis novos, não registraram a queda esperada, o que reforça a leitura de inflação mais resistente.
Perspectivas e política monetária
Para Lucas Barbosa, da AZ Quest, a composição do índice sugere que a desinflação perde força. “Serviços intensivos em mão de obra e de sociabilidade seguem em alta, o que pressiona o núcleo e limita espaço para cortes de juros imediatos pelo Banco Central”, avaliou.
A XP mantém projeção de inflação em 4,8% em 2025, enquanto a AZ Quest projeta 4,6%. Ambas veem desaceleração mais consistente apenas no próximo ano.
Economistas divergem sobre o calendário de cortes da Selic, a taxa básica de juros. Parte do mercado espera início da flexibilização ainda em dezembro, enquanto outras casas projetam movimento apenas em 2026.