A elevação das tarifas de importação de aço e alumínio pelos Estados Unidos para 50% entrou em vigor nesta quarta-feira (4) e deve intensificar os desafios enfrentados pelas exportações brasileiras no setor. A medida, assinada pelo presidente Donald Trump, duplica o imposto anterior de 25% e tem como objetivo fortalecer a indústria siderúrgica americana.
O Brasil, segundo maior fornecedor de produtos de aço e ferro para os EUA, é um dos países mais atingidos pela nova política comercial. Em 2024, as exportações brasileiras desse grupo de produtos para o mercado americano somaram US$ 4,677 bilhões, o equivalente a 14,9% das importações totais dos Estados Unidos nesse segmento. O país perde apenas para o Canadá em volume exportado.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) indicam que 47,9% das exportações brasileiras de aço e ferro tiveram os EUA como destino no último ano — o que evidencia a elevada dependência do setor siderúrgico nacional em relação ao mercado norte-americano. Para efeito de comparação, a China, segundo maior cliente, absorveu apenas 10,7% dessas exportações.
A decisão do governo Trump exclui o Reino Unido, com quem os EUA assinaram um acordo bilateral, mas afeta diretamente o Brasil e outros grandes exportadores, como México, Coreia do Sul e Alemanha. No total, o novo patamar tarifário incide sobre um mercado de importações anuais que supera os US$ 100 bilhões, considerando não apenas aço bruto e alumínio, mas também peças e componentes derivados.
Entre os produtos afetados estão os classificados no “código 72” do sistema harmonizado, que inclui itens semimanufaturados de ferro e aço, além de ferro fundido. Nesse grupo, o Brasil tem participação expressiva. Já em outros segmentos — como peças de aço e alumínio — a presença brasileira é mais modesta: em 2024, os EUA importaram US$ 306 milhões e US$ 272 milhões do Brasil nesses dois grupos, o que representa respectivamente 0,6% e 1% do total.
Diante do impacto econômico, o governo brasileiro vem adotando uma postura diplomática. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, reafirmou a defesa do diálogo como via principal para a resolução do impasse. “O caminho no comércio exterior deve ser de ganhos mútuos. Medidas unilaterais são equivocadas e prejudicam todos os lados”, disse Alckmin, em declaração anterior sobre a tarifa de 25%.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também demonstrou preocupação com os efeitos das tarifas e admitiu que o Brasil poderá recorrer a instâncias internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), caso o canal diplomático não traga resultados satisfatórios.
As novas tarifas reforçam o caráter protecionista da atual administração norte-americana e acendem um alerta para empresários e investidores brasileiros com exposição ao mercado de aço. A perspectiva é de um cenário mais difícil para as exportações no curto prazo, com impactos diretos sobre produção, empregos e competitividade da indústria nacional.