O México ultrapassou os Estados Unidos e se tornou, em agosto, o segundo maior comprador da carne bovina brasileira, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). O movimento ocorre após a imposição de tarifas adicionais de até 50% pelo governo norte-americano, que reduziram a competitividade do produto brasileiro no mercado dos EUA.
Entre os dias 1º e 25 de agosto, o Brasil exportou 10,2 mil toneladas de carne bovina para o México, gerando receita de US$ 58,8 milhões. No mesmo período, os embarques para os Estados Unidos caíram para 7,8 mil toneladas, o equivalente a US$ 43,6 milhões. Além do México, Rússia e Chile também superaram os norte-americanos, ambos com 7,9 mil toneladas importadas.
Estratégia de diversificação de mercados
A mudança no ranking dos principais destinos coincide com a missão oficial liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin ao México, nesta quarta-feira (27). A agenda, que também incluirá o Canadá, busca ampliar as exportações brasileiras e reduzir a dependência do mercado norte-americano.
“Quando você tem melhor competitividade, eu compro de você. Quando eu tenho, eu vendo para você. É ganha-ganha, com investimentos recíprocos”, afirmou Alckmin em encontro com mais de 100 empresários brasileiros na Cidade do México. A comitiva conta ainda com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana.
De acordo com a ApexBrasil, foram mapeadas 449 oportunidades comerciais em 72 países como alternativas ao mercado norte-americano. México e Canadá estão entre os dez principais destinos com potencial de absorver parte dos produtos afetados pelas tarifas.
Crescimento das exportações para o México
O México já vinha aumentando suas compras da carne bovina brasileira. Entre janeiro e julho de 2025, foram 67,6 mil toneladas, quase o triplo do mesmo período do ano anterior, somando US$ 365 milhões. Para comparação, o Brasil enviou pouco mais de 46 mil toneladas em todo o ano de 2024 e apenas 5 mil em 2023.
No acumulado de 2024, o Brasil respondeu por 23,5% das importações mexicanas de carne bovina, consolidando-se como fornecedor relevante. Segundo a Abiec, a proteína bovina representou 20% de tudo que o agronegócio brasileiro exportou para o México neste ano.
Além da carne bovina, os mexicanos importam do Brasil carnes de frango e suína, soja, produtos florestais e café. Hoje, o México ocupa a oitava posição entre os maiores destinos do agronegócio brasileiro.
Acordos e negociações em pauta
A Abiec defende a negociação de um tratado de livre comércio entre Brasil e México para ampliar a previsibilidade e a competitividade do setor. A entidade também busca a renovação do Pacote Contra a Inflação e a Carestia (Pacic), programa mexicano que garante isenção tarifária a itens da cesta básica.
Outra prioridade é ampliar o número de frigoríficos brasileiros habilitados a exportar ao México, diversificando fornecedores e fortalecendo a segurança alimentar local.
“O México é um parceiro estratégico. Queremos consolidar essa relação, mas não se trata de substituir os Estados Unidos, que continuam sendo um mercado fundamental”, afirmou o presidente da Abiec, Roberto Perosa.
Perspectivas
O governo brasileiro pretende transformar as missões comerciais em encontros regulares. A ApexBrasil já organizou 20 viagens internacionais desde o início do governo Lula, e a meta é institucionalizar fóruns bilaterais a cada dois anos.
Para Alckmin, a aproximação com México e Canadá faz parte de uma estratégia de complementariedade econômica. “Temos empresas brasileiras instaladas no México que exportam inclusive para o Brasil. Nosso papel é facilitar esse fluxo em todas as direções”, disse o vice-presidente.
A expectativa do setor é que a expansão do comércio com o México ajude a compensar os efeitos do tarifaço norte-americano e abra novas frentes de cooperação nas áreas de alimentos, tecnologia, bioenergia e transporte.