A Confederação Nacional da Indústria (CNI) anunciou nessa sexta-feira (25) que organizará, nas próximas semanas, uma missão empresarial aos Estados Unidos com o objetivo de discutir e tentar evitar a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados. A medida, proposta pelo presidente norte-americano Donald Trump, pode entrar em vigor a partir de 1º de agosto, caso não haja entendimento entre os dois países.
A decisão foi comunicada pelo presidente da CNI, Ricardo Alban, durante reunião do Fórum Nacional da Indústria, em São Paulo. “Queremos ir aos Estados Unidos conversar de empresa para empresa e defender os nossos interesses comerciais”, afirmou Alban. Segundo ele, o setor privado brasileiro não pode se omitir diante de uma ameaça que pode comprometer décadas de relações econômicas entre os países.
Diálogo entre empresas como estratégia
A missão empresarial terá como foco o diálogo com companhias norte-americanas, em busca de apoio para pressionar politicamente pela suspensão ou adiamento da tarifa. Alban ressaltou que a iniciativa não pretende substituir negociações governamentais, mas sim atuar como facilitadora da mediação bilateral. “Uma mesa de negociação sem a presença política e geopolítica do tema, mas sim com os assuntos comerciais e econômicos”, afirmou.
A indústria brasileira espera que a tarifa, se não for cancelada, ao menos seja adiada por 90 dias, abrindo espaço para tratativas diplomáticas e comerciais.
Relações bilaterais em números
Estudo recente da própria CNI mostra que os laços econômicos entre Brasil e Estados Unidos são extensos. Atualmente, 2,9 mil empresas brasileiras mantêm operações nos EUA, com destaque para investimentos relevantes nos últimos cinco anos. Entre 2020 e 2025, 70 companhias nacionais anunciaram projetos em território americano, somando mais de US$ 3,3 bilhões.
Entre os principais investidores estão a JBS (US$ 807 milhões), Omega Energia (US$ 420 milhões), CSN (US$ 350 milhões), Bauducco Foods (US$ 200 milhões) e Embraer (US$ 192 milhões). O estoque total de investimentos brasileiros nos EUA alcançou US$ 22,1 bilhões em 2024, um salto de 52,3% em relação a 2014.
Na direção oposta, os Estados Unidos acumulam US$ 357,8 bilhões em investimentos no Brasil, com cerca de 3,6 mil empresas americanas em operação no país — alta de 228,7% no mesmo período.
Governo brasileiro abre canal de diálogo
Em meio às tensões comerciais, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, informou ter iniciado diálogo com o governo norte-americano. Em conversa com o secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, no sábado (20), Alckmin destacou o interesse do Brasil em uma solução negociada.
“Foi uma conversa longa, colocando todos os pontos”, afirmou o ministro, que não detalhou a resposta do governo dos EUA. Para Alckmin, a alternativa a um conflito tarifário é a ampliação da integração produtiva entre os países.
“Em vez de ter um perde-perde, com inflação nos Estados Unidos e diminuição das nossas exportações, devemos avançar numa agenda extremamente positiva”, disse.