O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil avançou 0,4% entre abril e junho de 2025, segundo dados divulgados nesta terça-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado representa desaceleração em relação ao primeiro trimestre, quando a economia havia crescido 1,4%.
Em valores correntes, o PIB somou R$ 3,2 trilhões no segundo trimestre. Desse montante, R$ 2,7 trilhões vieram do valor adicionado a preços básicos e R$ 431,7 bilhões de impostos sobre produtos líquidos de subsídios. Apesar da perda de ritmo, o crescimento ficou acima da expectativa do mercado, que projetava 0,3%.
Setores da economia
O desempenho positivo foi sustentado por serviços, que cresceram 0,6%, e indústria, com alta de 0,5%. O agronegócio, por sua vez, recuou 0,1%, após forte impulso no início do ano com a safra recorde.
No setor de serviços, destacaram-se atividades financeiras e de seguros (2,1%), informação e comunicação (1,2%) e transporte (1,0%). Já o comércio ficou estagnado, e áreas como administração pública, saúde e educação registraram retração de 0,4%.
A indústria teve alta puxada pela extração mineral e de petróleo, que avançou 5,4%. Em contrapartida, setores como eletricidade e gás, água e saneamento (-2,7%), transformação (-0,5%) e construção (-0,2%) apresentaram queda.
Consumo, investimentos e comércio exterior
Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias cresceu 0,5%, apoiado por emprego e renda em alta. Já o consumo do governo caiu 0,6%, e a formação bruta de capital fixo — indicador de investimentos em máquinas, construção e infraestrutura — recuou 2,2%, refletindo os efeitos dos juros elevados sobre o crédito.
Nas contas externas, as exportações de bens e serviços subiram 0,7%, enquanto as importações diminuíram 2,9%, movimento influenciado tanto pela base de comparação do início do ano quanto por tensões comerciais internacionais.
Avaliação do governo e economistas
A Secretaria de Política Econômica (SPE), ligada ao Ministério da Fazenda, afirmou que a projeção oficial de crescimento do PIB em 2025, hoje em 2,5%, passou a ter “leve viés de baixa”. Isso porque o órgão citou os impactos defasados da política monetária, que mantém os juros básicos em 15% ao ano, além da desaceleração mais acentuada do que a prevista em julho.
Por outro lado, economistas também apontam que a economia “perdeu potência” após a colheita recorde do primeiro trimestre. Para Gesner Oliveira, professor da FGV e sócio da GO Associados, “a agropecuária, que foi a estrela no início do ano, agora tira o pé do acelerador”.
Enquanto isso, Rafael Perez, economista da Suno Research, destacou que a política monetária restritiva deve pesar mais na segunda metade de 2025, somada ainda ao alto endividamento das famílias e às incertezas fiscais. “Isso tende a limitar os investimentos e dificultar a sustentação do crescimento”, avaliou.
Posição internacional
O Brasil caiu da 2ª para a 32ª posição em um ranking com 55 países elaborado pela Austin Rating. O levantamento compara a taxa de crescimento trimestral do PIB. Indonésia (4%), Taiwan (3,1%) e Malásia (2,1%) lideraram a lista, enquanto Alemanha (-0,3%), Canadá (-0,4%) e Irlanda (-1%) registraram retração.
Segundo a Austin, o país deve encerrar 2025 como a 10ª maior economia do mundo em termos nominais, recuando em relação à previsão anterior, que o colocava na 8ª posição. A liderança segue com Estados Unidos, China e Alemanha.
Perspectivas
O mercado de trabalho resiliente, o pagamento de precatórios no segundo semestre e a expansão do crédito consignado podem dar algum fôlego à economia. No entanto, o cenário de juros elevados e crédito restrito sugere continuidade da desaceleração.
Para a economista Natalie Victal, da SulAmérica Investimentos, “o PIB reforça a mensagem de moderação, mas garante um carrego estatístico de 2,4% para 2025”. Isso mantém a projeção de alta anual próxima a 2,5%, embora com viés de baixa.